É que, com a implementação obrigatória do novo ensino médio, os colégios passarão a oferecer o chamado “Projeto de Vida”: uma espécie de programa para ajudar os jovens a se conhecerem melhor e a tomarem decisões pessoais e profissionais.
Entenda o que muda com a reforma do ensino médio
Cada instituição de ensino terá liberdade para definir como colocar isso em prática. Uma opção é criar uma disciplina específica no currículo, ministrada por um professor que tenha uma relação próxima com os alunos.
“A ideia central é trabalhar o protagonismo do jovem na escola, ajudando-o a desenvolver estratégias para colocar seus planos em prática”, explica Carlos Lordelo, coordenador de ensino médio do Movimento Pela Base.
Em escolas de tempo integral, o “Projeto de Vida” já existe mesmo antes da reforma. No Recife, por exemplo, a aluna Giovana Nogueira, de 16 anos, usou esse programa para pensar em como poderia conquistar o sonho de ser pediatra.
“O professor perguntou quais os meus objetivos a curto e longo prazo, para que eu pensasse em como chegar lá. Quero fazer medicina e cuidar de crianças. Então, meu plano de ação é começar 2022 estudando para o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]”, conta.
Na rede de Mato Grosso do Sul, a reação dos alunos de colégios integrais (tanto no ensino fundamental II quanto no médio) também está sendo positiva, conta Helio Daher, presidente do Conselho Estadual de Educação.
“Virou um espaço de escuta e de diálogo. Também damos liberdade para que cada escola trabalhe segundo sua especificidade – um estudante de uma comunidade indígena na fronteira com a Bolívia tem projetos diferentes do que mora perto da divisa com São Paulo.”
Especialistas ouvidos pelo g1 relatam que, apesar dos benefícios já citados, há obstáculos na implementação do novo componente do ensino médio, como a formação adequada de professores e o entendimento de que nem só o que “vale nota” importa na escola.
Entenda mais abaixo:
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC, documento que estipula o conteúdo e as habilidades que devem ser desenvolvidas pelas escolas) prevê o “Projeto de Vida” como um meio de o estudante exercer sua cidadania e tomar suas decisões com “liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade”.
São três pilares:
Anna Helena Altenfelder, presidente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC), reforça que não é apenas uma orientação vocacional.
O texto da reforma do ensino médio não estipula como o “Projeto de Vida” deve ser oferecido nas escolas.
Há diferentes possibilidades, explica Lordelo:
Altenfelder diz que cada opção acima exige um cuidado diferente.
As redes têm liberdade para definir suas atividades. Veja alguns exemplos do que será proposto aos alunos das escolas estaduais de São Paulo:
Se a escolha da escola for criar uma disciplina para o “Projeto de Vida”, ela pode escolher qualquer professor do seu corpo docente para ministrá-la. Não é necessário que seja um psicólogo, por exemplo.
O ideal é que se eleja um docente que tenha boa relação e proximidade com os alunos.
“As redes têm escolhido isso de formas diferentes. Algumas tomam como uma decisão administrativa, em vez de pedagógica. Pensam em quais professores estão com carga horária menor e encaixam na grade dele”, explica a presidente do Cenpec. “Isso não deve acontecer.”
Ela esclarece também que é preciso proporcionar ao docente uma formação continuada e articulada com os outros profissionais da escola.
No novo ensino médio, cada estudante poderá montar sua grade curricular, escolhendo as áreas nas quais se aprofundará.
A intenção é que sejam três anos de estudo com: conhecimentos básicos de cada disciplina (1.200 horas) + conteúdos focados nos objetivos pessoais e profissionais dos alunos (600 horas).
O “Projeto de Vida” não tem carga horária mínima estipulada – pode entrar tanto nas 1.200 horas da formação geral quanto nas 600 dos chamados itinerários formativos.
A escola também decide livremente se implementará o programa apenas no 1º ano do ensino médio, por exemplo, ou ao longo dos três anos. Pode até incluir o ensino fundamental, caso deseje.
O colégio pode adotar um material específico, mas não é algo obrigatório. O Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD – “cardápio” de livros que podem ser adotados pelas redes públicas de ensino) oferece opções de material de apoio para auxiliar os professores nas atividades.
As escolas podem decidir se implementarão alguma avaliação nas atividades do “Projeto de Vida”.
Segundo Daher, da rede de Mato Grosso do Sul, será um desafio romper com o raciocínio de que só as atividades que recebem nota são importantes na escola.
“Queremos que o jovem enxergue um sentido no que está acontecendo na aula. Ele não é obrigado a ver vídeos no Youtube, por exemplo, mas escolhe assistir a eles. A intenção é criar esse mesmo interesse pelo ‘Projeto de Vida’”, diz.
Fonte: G1